1 de janeiro de 2019

Salford City Football Club - Um clube pequeno com grandes ambições





Perguntar-se-ão, pelo menos alguns, porque estamos a dedicar um artigo a uma equipa que habita fora dos campeonatos profissionais ingleses. As respostas são simples. Primeiro, acreditamos que as equipas de campeonatos e divisões inferiores também merecem alguma atenção, e segundo, porque este clube tem um plano – um grande e ambicioso plano. No entanto, antes de nos debruçarmos sobre isso, falemos um pouco sobre o clube e a sua história.


Fundado em 1940, sob o nome de Salford Central, a equipa dedicou-se a competir nas ligas amadoras locais até 1963, ano em que conseguiu a promoção à Manchester Football League (um nível que podemos, de certa forma, equiparar aos nossos campeonatos distritais). No seguimento dessa promoção, decidiu-se que a equipa passaria a ter o nome de Salford Amateurs, de onde nasceu o nickname que ainda hoje acompanha este clube, “The Ammies”.

A década de 70 trouxe algum sucesso ao conjunto, tendo conquistado a Lancashire Amateur Cup por três vezes (1973, 1975 e 1977), e a Manchester Premier Cup em duas ocasiões (1978 e 1979). Foi, também, o período que viu os Ammies efectuarem a mudança para o seu actual estádio, Moor Lane (1978), actualmente conhecido como "The Peninsula Stadium" por questões relativas a patrocínios.

Mais tarde, em 1989, a equipa voltaria a mudar a sua designação, adoptando aquele que ainda hoje é o seu nome, Salford City F.C.

À excepção de algumas aparições em finais da Manchester Premier Cup ou vitórias nas primeiras eliminatórias da conhecida FA Cup, as décadas seguintes não se revelaram propriamente marcantes, com a equipa a estabelecer-se na Division One (2º escalão) daquela que é hoje conhecida como Northern Premier League (inserir link) (embora o nome possa sugerir uma só liga, trata-se de um conjunto de competições que compõem os 7º e 8º escalões do futebol inglês) em 2008, vendo-se envolvida em lutas pela manutenção ou épocas geralmente desapontantes ou pouco impressionantes nos anos que se seguiram.

Em Março de 2014 surgiam notícias que relatavam a possibilidade de o clube estar prestes a ser adquirido por membros da famosa Class of ‘92, sendo eles Ryan Giggs, os irmãos Neville, Paul Scholes e Nicky Butt. Essas notícias revelaram-se verdadeiras, com os novos proprietários a revelarem a sua ambição de elevar a equipa até ao segundo escalão do futebol inglês nos 15 anos seguintes – em contraste com as muitas vezes absurdas e falhadas ambições de sucesso rápido de muitos novos proprietários de clubes de futebol. De forma a não criar instabilidade, foi decidido que as posições de presidente e treinador não sofreriam alterações.

Nesse mesmo ano, em Setembro, o grupo de proprietários anunciou a venda de 50% do clube a Peter Lim, que muitos conhecerão como proprietário do Valência, mostrando vontade de dar a este projecto outros argumentos financeiros.
A época acabou com o clube a garantir o primeiro lugar no campeonato e a subida ao primeiro escalão da Northern Premier League, apesar de uma má fase a meio da temporada que resultou no despedimento do treinador.

Inspirados pelo sucesso da época transacta e empurrados pelos meios à sua disposição, o clube mostrou-se, nas épocas seguintes, acima do nível que evidenciara nas décadas anteriores, conseguindo mesmo uma razoável série de vitórias na F.A. Cup, incluindo um triunfo por 2-0 frente ao Notts County. Conseguiram, também, terminar num lugar de acesso aos playoffs de promoção, onde se superiorizaram às restantes equipas e conseguiram, novamente, a subida de divisão, chegando à National League North.
O sucesso trouxe a profissionalização do clube, em 2017, e uma nova subida de divisão, esta em 2018.

O Presente - Sonhos e as inevitáveis comparações com outros projectos



Na época que decorre, os Ammies disputam a National League, o nível mais alto atingido pelo clube em toda a sua história. Empurrados pelo actual treinador, Graham Alexander, e jogadores como Adam Rooney, irmão de Wayne Rooney e jogador com experiência em voos consideravelmente mais altos, o caminho para uma nova promoção e consequente entrada nos primeiros níveis do futebol profissional das terras de sua majestade parece estar ao alcance deste conjunto.

De resto, não foi apenas Rooney, que actuava na Scottish Premier League e era uma peça importante da estratégia do Aberdeen, a abdicar de jogar em campeonatos de qualidade superior para se juntar ao ambicioso projecto promovido pelas antigas glórias do Manchester United. Scott Wiseman e Jack Redshaw são outros nomes que abdicaram de jogar em clubes colocados em divisões superiores para abraçarem este novo desafio, mostrando que a possibilidade de fazer parte da equipa dos Ammies é algo mais atractivo do que se poderia pensar.

Como previamente referido, existe um projecto bem definido, com bases sólidas e que, de momento, parece estar bem encaminhado. Como sabemos, o futuro nem sempre se alinha com as ambições do presente, e o salto para os campeonatos da Football League será uma tarefa mais complicada do que as subidas de divisão nos escalões do non-league football. Sendo aparentemente bem gerido, acreditamos que essa transição será devidamente planificada, sem excessos ou súbitas exigências para que se atinjam níveis superiores de forma apressada, até porque os responsáveis pela equipa possuem, entre si, imensa experiência a nível futebolístico, conhecendo o valor da paciência e peso das expectativas.

Esses problemas mencionados acima são, de resto, o calcanhar de Aquiles de imensos projectos futebolísticos semelhantes, como, por exemplo, o que sucedeu com o Notts County que se viu envolvido numa aquisição com contornos fraudulentos com o envolvimento de um conhecido burlão, ou mesmo o Blackburn Rovers, equipa cujos novos proprietários quiseram catapultar de forma demasiado rápida, desorganizada e sem o devido conhecimento/planeamento e que acabou por terminar em ruína desportiva.
Se os Rovers, após a sua enorme queda, já lograram melhorar ligeiramente a sua situação, o mesmo não se pode dizer do Notts County, que corre sérios riscos de vir a perder o seu lugar na League Two e enfrentar a queda para as divisões fora da Football League.

Saindo do futebol inglês, podemos pensar no TSG 1899 Hoffenheim (ou apenas Hoffenheim), equipa que também contou com apoio financeiro para subir desde o quinto escalão alemão até à Bundesliga, tendo já participado na Liga dos Campeões. Quando comparado com os casos acima mencionados, este trata-se de um sucesso, algo que a equipa do Salford quererá, de certa forma, replicar.

Se a situação dos Ammies dificilmente se poderá comparar com a que foi vivida pelo Notts County, o mesmo não se pode dizer de uma comparação com o que sucedeu com os Rovers. No entanto, até agora semelhantes erros não foram cometidos pelos homens fortes do projecto, que mantêm a sua estratégia de deixar tudo fluir de forma natural. Posto isto, conseguirão os Ammies cumprir as suas ambições? Só o tempo o dirá, mas começa a parecer que, dando um passo de cada vez, esta equipa vai ao encontro do sonho de chegar aos campeonatos superiores, um pouco ao estilo da sua congénere alemã.


Curiosidades e notas finais



Antes da compra do clube por parte dos actuais donos, os Ammies jogavam com um equipamento cor-de-tangerina (não, não era exactamente laranja) e negro. Actualmente, as suas cores são vermelho, branco e negro. O emblema do clube também foi alterado, mas foi tomada a decisão de manter um leão no escudo, elemento que se encontrava presente no anterior desenho.

Nos jogos em casa, a equipa do Salford entra em campo ao som de uma cover de Dirty Old Town (Ewan McColl, 1949), tocada pela banda The Pogues. A música foi inspirada pela infância de McColl, passada em Salford.

Em jeito de nota final, sugerimos aos nossos leitores, pelo menos aos que se sintam à vontade no mundo das apostas desportivas, que acompanhem o progresso deste pequeno clube. Poderá ser um conjunto com potencial para recompensar os mais aventureiros.



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