5 de junho de 2018

FIFA World Cup 2018 - Os Candidatos


Finalmente. Há 4 anos que o mundo do futebol aguardava por mais um momento como este, aquele que junta e agarra gerações e gerações ao sofá, que move meio planeta em prol de cada bandeira. Chegou o Campeonato Mundial FIFA 2018.


Serão 32 Seleções, 32 os países que se farão representar na Rússia e que irão disputar aquele que é o troféu máximo do futebol. Um enorme evento como este merece, está claro, os melhores protagonistas e as grandes decisões começam muito antes da partida. Só 736 atletas terão a oportunidade e a honra de vestir as cores da sua Seleção e estamos certos que as escolhas foram tudo, menos fáceis. Nainggolan ou Leroy Sané são nomes que obviamente causam algum "dissabor", como ausências difíceis de digerir, mas agora o importante será dar destaque a quem realmente poderá fazer valer a sua convocatória.

Esta será a 21ª edição da competição e, até hoje, são 8 os países que lograram levantar a "dourada" - Brasil (5 vezes), Itália (4), Alemanha (4), Argentina (2), Uruguai (2), França (1), Espanha (1) e Inglaterra (1). A última a consegui-lo foi a poderosa Mannschaft de Joachim Löw que, depois do sucesso no Brasil, apresenta nova e forte candidatura. Por falar em candidaturas, preparamos para ti uma breve análise daquelas que, para nós, serão as Seleções com mais capacidade para levar de vencido o troféu.


Alemanha



Os primeiros a merecer menção são os germânicos, diríamos nós, sem qualquer tipo de surpresa. Em 18 participações em Mundiais, são 4 as conquistas (1954, 1974, 1990 e 2014), 4 segundos lugares, 4 terceiros, e ainda os recordes de jogos disputados (106) e de golos marcados (224). A juntar a isto, podemos ainda destacar as vitórias nos Europeus de 1972, 1980 e 1996, e ainda uma inédita Taça das Confederações conquistada no ano transato. Não é difícil perceber que esta Seleção marca a sua história pela competência, consistência e por um vasto leque de excelentes plantéis.

Após receber o Mundial de 2006 em sua casa e de ter caído nas meias finais aos pés da futura campeã Itália, o então técnico auxiliar Joachim Löw ficou encarregue de assumir todas as despesas da equipa. Com um lote recheado de jovens de enorme talento, os anos que se seguiram podem muito bem ser retratados pela palavra "quase". Logo em 2008, A Alemanha marca presença na grande Final, mas sai derrotada com um golo de Fernando Torres; em 2010, na Africa do Sul, e depois de cilindrar a Inglaterra (4-1) e a Argentina (4-0), volta a cair frente à aos espanhóis, desta vez nas meias finais.

Mais uma grande competição - Euro 2012, mais uma vez apontada como principal favorita, a Alemanha volta a ficar "pendurada" nas meias finais, e o carrasco foi um velho conhecido, a Itália. A qualidade estava lá e notava-se que era apenas uma questão de tempo até os sucessos começarem a aparecer. Ainda assim, sabemos perfeitamente que a paciência não abunda no futebol e o tal "quase" não alimentava os adeptos. Finalmente, em 2014, os jogadores tranquilizam o país e trazem do Brasil o tão esperado título de campeões do mundo.

Segue-se o Euro 2016 e agora o favoritismo era dividido com a França, anfitriã do torneio. As duas Seleções marcaram encontro nas meias finais e o pragmatismo francês saiu por cima, 2 golos de Griezmann foram a história do encontro. Quanto à qualificação para esta nova edição na Rússia, as contas não podiam ser mais simples. Foram 10 jogos e... 10 vitórias! 43 golos marcados contra apenas 4 concedidos, um verdadeiro massacre. Já são 12 anos desde a chegada de Löw ao comando e podemos estar perto do fim de uma era, portanto também será interessante perceber se será este o último capítulo.


Principais pontos fortes: Sistema tático perfeitamente enraizado; Competência e compromisso com as ideias do treinador; Qualidade e objetividade na circulação de bola; Entrosamento - jogam quase de "olhos fechados".

Maiores lacunas: Desconcentração nas zonas mais recuadas em virtude do pendor ofensivo; Poucas opções para as laterais, escassos extremos puros e consequente falta de largura; Inexperiência defensiva (devido à saída de jogadores fundamentais como Philipp Lahm, por exemplo).

Jogadores chave: Manuel Neuer (dispensa apresentações, o início da construção começa aqui); Joshua Kimmich (lateral mais capaz do plantel e com faro de golo); Toni Kroos (a "âncora" da equipa, o espelho da precisão); Mesut Özil (o maestro, responsável pela definição do timing de ataque); Thomas Müller ("pau para toda a obra", muito importante nas tarefas e no esquema tático de Löw).

Candidatura: Depois daquilo que foi dito, seria algo "hipócrita" da nossa parte não colocar os germânicos no topo da hierarquia. Ainda que não sejam os únicos com argumentos para lá chegar, são aqueles que mais provas têm dadas da sua consistência. Nos tempos que correm, ainda há alguém que goste de apostar contra a Alemanha? Já diz o ditado - "o futebol são 11 contra 11, mas no final (...)". Sempre sincronizados com a baliza adversária, "frios" na hora da decisão e muita qualidade a mover a bola de pé para pé, é isto que nos reserva a temível Mannschaft na Rússia.

França



A Seleção francesa é talvez aquela que mais tem evoluído nos últimos anos. No passado mais recente, a história é esta: 3 vitórias (todas em 2014), 2 empates e 3 derrotas nos últimos 2 Mundiais; 6 vitórias (5 delas em 2016), 3 empates e 5 derrotas nos últimos 2 Europeus. O período 2008-2013 foi simplesmente terrível para os gauleses e há motivos para todos os "feitios". Domenech e Blanc foram os treinadores desse mesmo enredo e nunca conseguiram cativar a atenção dos seus jogadores, muito pelo contrário, uma vez que conflitos internos e falta de disciplina eram constantemente a ordem do dia.

Como se não bastasse, rumores de racismo e propagandas para serem convocados apenas "verdadeiros franceses" levaram ao rompimento total entre adeptos e a própria Seleção. As miseráveis campanhas nos Euros 2008 e 2012, e no Mundial de 2010 (onde a equipa nem sequer ultrapassou a fase de grupos) foram o culminar de uma fase manchada pelo fracasso. O revés surge com a chamada de Deschamps para comandar um "navio" que parecia longe de encontrar a sua rota. Um homem com ideias bem definidas e determinado a recuperar uma França envergonhada, fosse com quem fosse, acabou por ser a salvação que tanto se procurava. 

Aos poucos e poucos, a transformação ia sendo cada vez mais notória, o futebol apresentado já era apelidado de alto nível e, como da "água para o vinho", a Seleção francesa faz um excelente fase de grupos no Mundial de 2014. Já apontada como a principal favorita à vitória no Brasil, acaba por cair (num jogo extremamente renhido) aos pés da futura campeã, a Alemanha. Claro, nada disto seria possível sem a qualidade dos próprios atletas que é cada vez maior e diversa, as "dores de cabeça" que qualquer treinador gostaria de ter.

No Euro 2016 as expetativas já eram bem diferentes e, em França, ninguém esperava menos do que a conquista do troféu em solo nacional. O trajeto até à Final foi todo ele imaculado, sempre a mostrarem o porquê de serem um dos grandes favoritos, e faltava "apenas" a Seleção portuguesa. Arrogância e alguma falta de respeito fizeram daquele que contavam ser um jogo de "favas contadas", a maior desilusão da sua história. Ainda assim, e mesmo depois de um inesperado desaire, os índices anímicos estão no auge e tudo irão fazer para se sagrarem novamente campeões do mundo, 20 anos depois da 1ª conquista.

Principais pontos fortes: Opções de qualidade em abundância; Ataque temível; Jovens talentosos, fortes e muito rápidos; Capacidade explosiva.

Maiores lacunas: Pressão para terem de ganhar; Auto-confiança excessiva; Capacidade para aguentar avalanches ofensivas por parte de equipas com qualidade na circulação de bola; Conseguir com que todos os setores joguem de forma homogeneizada.

Jogadores chave: Raphael Varane e N'Golo Kanté (os grandes responsáveis pela competência defensiva da equipa); Paul Pogba ("motor" de ligação entre linhas); Antoine Griezmann (a figura da Seleção onde são depositadas as maiores esperanças); Kylian Mbappé (o "artista" de serviço).

Candidatura: Ao que nos parece, menos do que uma presença na Final será desapontante para aquilo que se espera deste conjunto. Quando aceleram, são uma equipa totalmente avassaladora e muito difícil de conter, principalmente nos flancos - onde se encontram os maiores desequilibradores. Deschamps dá especial liberdade ao ataque, "eles que se entendam", e a falta de egoísmo é um sinal mais para estes jovens que estão sedentos por triunfar. Os bleus são, na nossa opinião, a equipa com maior talento individual da competição, a par do Brasil talvez, e um encontro entre as duas Seleções pode muito bem acontecer nas meias finais. Um estilo mais talhado para o "mata mata" pode ser a chave para bater os canarinhos.

Espanha



Uma equipa de quem se esperam grandes coisas, mais uma vez, é a Espanha. Vencedores do Mundial de 2010 na África do Sul, os espanhóis foram ao Brasil mostrar uma faceta muito diferente. Má preparação, gestão ineficiente e um futebol sem ideias foram os dados lançados para o insucesso. Se as expetativas estavam altas, a realidade mostrou ser um autêntico desastre, com o conjunto a não ultrapassar sequer a fase de grupos. 

Passaram 2 anos e surge uma tentativa de renovar a Seleção, com uma data de caras novas e uma reformulada abordagem ao jogo. As coisas nem pareciam mal encaminhadas, contudo, uma excelente lição de contra-ataque imposta pela Itália de António Conte, travou os destinos espanhóis logo nos oitavos de final do Euro 2016. Chegou-se à conclusão que o problema seria Del Bosque, o seu esquema (fortemente aliado à potência Barcelona, diga-se) estava ultrapassado e era necessário uma mudança mais radical.

A solução foi Julen Lopetegui, uma cara bem conhecida e um ótimo professor da cultura futebolística espanhola - variação do tiki taka, se é que lhe podemos chamar assim. O seu histórico de trabalho com os escalões mais jovens da Seleção terá sido fator fundamental, uma vez que conta no currículo com a conquista de 3 Campeonatos da Europa, dois com os sub19 (2011 e 2012) e um com os sub21 (2013). Consequência disso mesmo, Lopetegui já trabalhou com várias figuras do atual plantel da Seleção Principal, casos de De Gea, Carvajal, koke, Thiago, Isco, etc. e isso terá certamente um papel importante na adaptação às novas ideias.

Quanto ao apuramento para o Mundial na Rússia, as contas são bastante simples de fazer. Foram 9 vitórias e 1 empate em 10 jogos, 36 golos marcados e apenas 3 sofridos. O grupo era demasiado acessível e o único adversário "de peso" era uma Itália que passava por um momento muito complicado, o que nos faz ficar algo reticentes quanto ao verdadeiro poderio desta equipa. Ainda assim, amigáveis contra França (vitória por 2-0), Alemanha (1-1) e Argentina (vitória por 6-1), onde foram anotadas excelentes exibições coletivas, fazem-nos colocar La Roja como uma séria candidata nesta altura.

Principais pontos fortes: Bloco organizacional; Automatização de processos; Circulação/posse de bola; Ataque prolífero baseado no 1º toque; Paciência e bom uso da criatividade; Capacidade para "caprichar" no último terço/passe.

Maiores lacunas:  Desconcentração em momentos de grande domínio; Debilidades defensivas; Capacidade para mudar o chip; Flexibilidade para corresponder aos vários momentos do jogo.

Jogadores chave: De Gea (um autêntico muro); Sergio Ramos (bolas paradas); Isco ("cérebro" da equipa); David Silva e Iniesta (aditivo de experiência); Diego Costa (o homem-golo); Marco Asensio (fator imprevisibilidade).

Candidatura: As expetativas parecem ser claras e prendem-se com um lugar na final four. Espera-se uma equipa que irá tentar dominar todos os jogos, independentemente do adversário, nunca abandonando a vontade de ter a bola na sua posse. O futebol dos espanhóis volta a destacar-se como sendo um dos mais atraentes da atualidade e parte disso deve-se à boa química entre os próprios jogadores que já somam muitos minutos juntos, logo a começar nos escalões de formação. Além disso, grande parte destes atletas joga no próprio campeonato espanhol, "dono e rei" do futebol europeu, e quase todos eles com lugar nos melhores planteis.

Brasil



É simplesmente impossível falar do Brasil sem saltar à memória aquilo que foram os anos 90 e o início do novo milénio. Saudades do "joga bonito"? Saudades de Ronaldo, Ronaldinho, Rivaldo, Romário, Roberto Carlos, Cafú? A lista é interminável e quem a saberá melhor do que ninguém são os próprios brasileiros. A última grande conquista remete a 2002, no Mundial do Japão/Coreia, e apesar de vitórias na Copa América (2004 e 2007) e do tricampeonato na Taça das Confederações (2005, 2009 e 2013), a verdade é que os canarinhos têm vindo a perder relevância no panorama internacional.


O Campeonato do Mundo tem de ser um objetivo para uma Nação com tamanhas aspirações e, ainda que a qualidade dos jogadores continue a ser bastante elevada, a sua personalidade foi, por diversas vezes, colocada em causa. "Mercenários" - era assim que os adeptos se dirigiam aos atletas, acusando-os de não lutarem pelas cores do país como faziam pelos clubes que representavam. A situação piorava quando não existia uma voz de comando, já que, durante muitos anos, o Brasil não teve um técnico com qualidades para tal, um verdadeiro "chefão" que pudesse incentivar os mais jovens a criar uma base de disciplina e compromisso com o seu país. 

Na memória está também o fracasso no Mundial de 2014, do qual foram anfitriões, e que terminou em pesadelo com um histórico desaire por 7-1 frente à Alemanha. O Brasil demorou a perceber que a qualidade técnica, por si só, não chega e que é preciso muito mais do que isso. Ainda assim, parecem ter encontrado a solução perfeita. Tite, um dos homens mais respeitados do futebol brasileiro, foi quem aceitou o desafio. Como alguém que foge à regra, tendo em conta o seu estilo mais "europeu", Tire percebe o futebol como ninguém na América do Sul e, mais importante ainda, é um excelente gestor de pessoas, um reconhecido líder.

A sua primeira prova foi dada a nível interno e os resultados dificilmente poderiam ter sido melhores. 12 vitórias, 5 empates e 1 derrota, 41 golos marcados e 11 sofridos, foram estes os números apresentados numa qualificação conhecida por ser um autêntico "texas", quer pela qualidade das Seleções, quer pela própria competitividade adjacente. Além dos resultados, as exibições da equipa encheram o olho e convenceram grande parte do público, até porque a margem de progressão é enorme e tende a melhorar. Se é verdade que estão no bom caminho, a grande questão prende-se com a hipotética capacidade para competir com os atuais colossos vindos da Europa.

Principais pontos fortes: Talento ofensivo de luxo; Criatividade; Quando "ameaçados", sentem-se confortáveis a jogar no contra-ataque, mas também assumem o jogo quando o adversário quebra; Equilibro entre setores; Jogo a toda a largura do campo.

Maiores lacunas: Apesar de jogarem em contra-ataque, desposicionam-se com alguma facilidade; Falta de objetividade quanto têm controlo do jogo; Ausência de um número 9 puro, um "matador"; Alguma inexperiência enquanto equipa.

Jogadores chave: Alisson (quer fosse entregue a ele ou a Ederson, a baliza está muito bem guardada); Marcelo (compostura nas grandes decisões); Coutinho (a conexão entre o meio campo e o último terço cabe-lhe a ele); Neymar (um dos melhores do mundo, são mais de 200M os brasileiros às suas costas).

Candidatura: Apesar de, a nosso ver, serem um dos grandes candidatos, se não vencerem também não será um choque. Aquilo que se lhes é exigido são as meias finais da competição. O importante é cimentar o que tem vindo a ser construído e certamente que o sucesso aparecerá num futuro próximo. Uma equipa equilibrada e versátil, aliando a "ridícula" qualidade técnica a um espírito de combate e sacrifício, show é aquilo que se espera da Canarinha. Os níveis de confiança estão em alta e será difícil suster estes jogadores com o ritmo trazido dos principais clubes do mundo. Adaptabilidade ao desenrolar do torneio será a arma para o bom percurso desta Seleção.

Esta foi a nossa análise, vai de encontro com a tua opinião ou achas que outras Seleções podem ter um "trunfo na manga"? Como não queremos que te falte nada, daqui a uns dias iremos lançar a 2ª parte do nosso artigo onde vamos divulgar algumas previsões, tanto a título individual como a nível coletivo.

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