25 de agosto de 2018

Opinião - Austin FC?

Num evento realizado na passada quarta-feira, na cidade texana de Austin, Anthony Precourt, actual dono da equipa dos Columbus Crew, revelou, através do seu grupo, Precourt Sports Ventures (PSV) aquilo que poderá vir a ser o logótipo de um franchise da MLS localizado nessa mesma cidade.
Estas movimentações dão-se na sequência daquilo que é um conturbado processo envolvendo os Crew, que podem vir a deixar a cidade onde estão localizados para criar raízes no Lone Star State. 


Para melhor entender esta situação, é necessário colocar em cima da mesa o movimento Save The Crew, que pretende manter a equipa em Columbus, e abordar as causas que levam a que tais medidas sejam necessárias.
Em 2013, Anthony Precourt, nome que será, certamente, agora alvo de poucos sorrisos por parte dos adeptos dos Crew, tornou-se no segundo dono (investor-operator) do clube, após a aquisição do mesmo a Clark Hunt, por cerca de 68 milhões de dólares.
Após um rebranding, considerável investimento em infraestruturas e estrutura interna, incluindo a contratação de Gregg Berhalter como treinador - algo que devolveu algum sucesso à equipa - Precourt terá ficado frustrado com as fracas possibilidades de conseguir um estádio novo para os Crew. Assim sendo, em Outubro do ano passado, foi avançada a possibilidade de deslocar a equipa para Austin, no Texas, caso não fosse possível chegar a acordo para a construção de um estádio numa localização mais favorável do que aquela onde se situa o MAPFRE Stadium, actual casa dos amarelos do Ohio. Esta situação tornou-se ainda mais séria após a revelação de que a possível mudança já estaria a ser discutida por Prevost e pela MLS, largos meses antes do anúncio.
Tal situação, como será de imaginar, não caiu bem com os adeptos locais e levou à mobilização de grupos dos mesmos, culminando na fundação do movimento Save The Crew, que pretende, como será óbvio, manter a equipa em Columbus.

Adeptos dos Crew exibindo tarjas de apoio à manutenção da equipa em Columbus - Imagem por Jay Eyem/Wikipedia

Fornecido o contexto, passemos ao que realmente interessa. Ressalvo, desde já, que este texto representa uma opinião pessoal e não pretende mostrar uma única e absoluta verdade, pelo que convido cada um, caso exista interesse, a investigar o assunto e a formar os seus próprios pensamentos acerca do mesmo.

Em primeiro lugar, e embora seja possível entender a situação, ainda que de um ponto de vista mais orientado para a área dos negócios, a divulgação desta proposta de imagem para uma equipa em Austin é tudo menos oportuna, para não dizer desrespeitosa e insultuosa para com os Crew e os seus adeptos.
Com Columbus ainda com hipóteses de disputar e conquistar a MLS Cup e a precisar de toda a estabilidade possível, semelhante anúncio revela uma total falta de tacto ou, simplesmente, um forcing desesperado para que a mudança realmente aconteça, quase levando a acreditar que Anthony Precourt não tem, no fundo, qualquer esperança ou interesse em manter a equipa em Columbus.

Segundo ponto, não deixa de ser curioso e quase cómico que um dos pontos avançados pela PSV, na descrição do logótipo para o possível Austin FC, faça referência a um laço de união entre clube (que não existe) e cidade, especialmente tendo em conta a relutância que este grupo e o seu dono parecem ter quanto a uma permanência da equipa no lugar onde se encontra, onde já tem, de facto laços com a comunidade - desde 1996.

Terceiro ponto, San Antonio. Que tem San Antonio a ver com isto, perguntar-se-ão vocês? Pois bem, tem tudo. Acontece que San Antonio investiu fundos e reuniu com executivos da MLS com vista a avaliar a possibilidade de receber uma futura equipa, a 3ª do texas, algo que poderá cair totalmente por terra com esta relocalização. Riscos do negócio, poderão dizer, e com alguma razão. Mas não deixa de ser imensamente negativo, em termos de imagem, para a própria MLS, ver-se envolvida em semelhantes situações. 

Em quarto e último lugar, é verdade que situações semelhantes a esta não são totalmente inéditas nas ligas profissionais dos Estados Unidos, existindo vários casos espalhados pela NBA, NHL, MLB, até porque a forma de ver e gerir as equipas e o peso dos adeptos diferem um tanto daquilo que vemos deste lado do Oceano Atlântico. No entanto, talvez seja necessário apontar que, dada a sua dimensão reduzida face a outras ligas supracitadas, a MLS necessita de estabilidade e publicidade positiva, não de jogadas de bastidores e decisões puramente motivadas por factores económicos que, no final, apenas dividem adeptos e criam conflitos.

Confirmando-se a infeliz situação, algo que parece bastante provável, talvez os Crew possam imitar San Jose e voltar novamente, alguns anos mais tarde (até porque, mal por mal, talvez Precourt e a PSV permitam que o nome e o histórico dos Crew fique em mãos locais), mas o ideal seria que esta brincadeira de mau gosto acabasse por não passar disso mesmo.

Em jeito de nota final, e em linha com o que já foi referido antes, convido-vos a dar uma vista de olhos ao movimento Save The Crew, e aos comentários de adeptos das mais variadas origens, acerca desta situação.


Sem comentários:

Enviar um comentário